O dilema sírio

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A partir dos primeiros momentos de sua crise interna, a Síria enfrentou os insurgentes de forma pesada por meio das forças de segurança, especialmente no norte do país, desencadeando a fuga de milhares de refugiados para a Turquia. A Liga Árabe anunciou a suspensão da Síria e promoveu sanções econômicas ao regime …

O Brasil no Mundo de 2025: Incertezas e Desafios das Relações Internacionais

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O mundo está em crise! Crise grave porque engloba confiança e credibilidade!

Os organismos internacionais de maior peso internacional como a Organização Mundial do Comércio (OMC), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU) e sua Rodada de Doha, que tratam das questões comerciais, estão desmoralizadas pela incapacidade de gerir os antagonismos econômicos e as adversidades financeiras globais.

A crise severa da Zona do Euro está longe de ser solucionada, refletindo diretamente para a própria comunidade européia, ainda sustentada, com dificuldade crescente, pela Alemanha, e com “viés de baixa” pelo Reino Unido…

O déficit fiscal dos EUA não sai de um vermelho assustador desde as empreitadas bélicas lunáticas empreendidas pelo governo falcão do Bush filho, também conduzindo a um nível de desemprego domestico assustador para os padrões norte-americanos.

O Japão, líder isolado do Oriente, ainda não descobriu um equilíbrio político interno para promover seu caminho de crescimento estável. A Rússia tenta retomar um papel de liderança global com grande esforço, entretanto colhe frutos amargos pelo plantio equivocado de um governo socialista com base no mercado capitalista, tendo sido deixado esta tarefa para um “seleto grupo” de empresários, próximos do Kremlin, mais conhecidos como a “Maphya Russa”, rica, forte e poderosa.

A Índia cresce que nem catapora, mas no seu inverso, estabelecendo ilhas de prosperidade no meio de um oceano de mazelas e desigualdades, porém “próspero” por ser de fácil condução (religião x castas sociais) por parte da elite do poder reinante.

A China, bem, avança firme e determinadamente para se tornar um Estado suficientemente forte comercial, tecnológico e militarmente falando como um verdadeiro ator global, além do Mar da China, influenciando (e preocupando) seus vizinhos e os EUA, seu verdadeiro oponente. Dependente radicalmente de fonte de energia e de matéria prima do exterior, ganha espaço cada vez mais nas negociações internacionais, apesar dos graves óbices relacionados com a superpopulação (alimento e emprego) e com as questões ambientais.

Nessa turbulência global cada um busca solucionar seus problemas não mais em bloco, mas sim por meio de acordos bilaterais. O maior exemplo é o provável pujante acordo entre os EUA e a UE, em fase final de negociação, e entre os mesmos Estados Unidos com a Ásia, sendo o Japão um provável membro desse também poderoso acordo de cooperação comercial.

Numa esfera menor países da América Latina buscam parcerias com os EUA, China e outros Estados com interesses convergentes.

E o Brasil, nosso País que pertence ao grupo dos “emergentes”, que integra os BRICS e é um dos fundadores do Mercosul, da UNASUL, etc., cujo PIB o credencia a ser reconhecido como um dos 10 países mais “ricos”, apesar do “pibinho” ridículo obtido em 2012, do IDH mediano para baixo, das profundas desigualdades sociais e culturais e da real desqualificação da grande parte de sua população, com uma representatividade política sofrível para não dizer desastrosa, como fica nessa estória?

Simplesmente não fica e deixará de ser tudo aquilo que se vislumbrava há pouco tempo atrás se permanecer à parte das grandes negociações internacionais e dos fortes acordos bilaterais. Isso sem falar na política econômica doméstica equivocada baseada tão somente no crédito sem o lastro proporcional para manter dinâmico o mercado interno e de fato oferecer garantias políticas ao setor produtivo para empreender e investir para melhor produzir melhores produtos e competir no exterior.

De costas para o Pacífico há séculos, talvez por entender ser intransponível a barreira geográfica dos Andes (sic), é mais do que oportuno o Brasil promover uma alteração na hierarquia das prioridades comerciais para aquela região e para o hemisfério norte.

Um trabalho de política externa intensa de difícil vislumbramento a curtíssimo prazo, mas possível a partir de 2016 após os dois grandes eventos previstos para serem realizados no País.

Deixar de desacreditar em política de longo prazos para priorizar políticas de Estado é uma desafio de mudança de paradigma antigo, mas de importância enorme para o País avançar sem descontinuidade nociva e desgastante, investindo paulatina e permanentemente na estruturação logística doméstica e na educação de base junto a população e na qualificação correspondente dos professores em todas as regiões brasileiras.

Será que essas mudanças de eixo político e comercial no campo externo brasileiro serão suficientes para alcançarmos um futuro desejado daqui a cerca de dez ou quinze anos? Certamente precisamos correr para não ficarmos tão atrás nessa complexa e intensa rede de negociações comerciais internacionais, pondo em prática, com urgência, novas ações políticas, com o aval do empresariado, ao invés de ficarmos “patinando” no mesmo lugar, sem resultados que justifiquem tal conduta absolutamente alheia dos grandes movimentos globais no campo do comércio exterior.

Roberto Carvalho de Medeiros é Doutor em Ciências Navais – Política e Estratégia Marítimas pela Escola de Guerra Naval (EGN – 2002)

Sistema Ultrapassado de Saúde

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A sigla SUS colou. O conceito não. Contradiz o que pretende passar para os usuários. Saúde não é ausência de doença. É o bem-estar físico, mental e social do indivíduo. Supõe sociedade justa, igualitária, segura, educada, produtiva de bens necessários e não de males supérfluos. Não se promove saúde tratando enfermos. Cura é ação válida. Reduz sofrimento, atenua sequelas. Porém, não atinge o cerne da questão. As doenças não desaparecem.

Propagam-se mercê de um modelo que prioriza terapêutica, não profilaxia. Tratamento cura o paciente, mas não impede a difusão da moléstia. Alivia sintomas, não erradica fontes do mal. Não protege o cidadão dos riscos potencialmente lesivos às estruturas e funções do organismo humano.

As evidências são fartas. Nos Estados Unidos, o impacto de investimentos orçamentários do setor saúde, medido pela redução da mortalidade, mostra o seguinte: 90% dos recursos são aplicados para manter e ampliar a rede de serviços destinados ao diagnóstico e tratamento de doenças, resultando na redução de apenas 11% da mortalidade; 1,5% investidos em mudança de estilos de vida levam à queda de 43% da mortalidade; 1,6% destinados a qualificar o meio ambiente diminuem 40% da mortalidade; e 7,9% despendidos em biologia de saúde fazem baixar 27% do referido indicador.

Em síntese, tratar doentes consome quase todo o orçamento de saúde daquele país. O retorno é insignificante quando comparado ao produto de investimentos mínimos em outras políticas sanitárias. No Brasil, não é diferente. O SUS utiliza a maioria do orçamento nos cuidados com enfermos. A rede física aumenta. Despesas com recursos materiais, equipamentos e insumos diversos exorbitam. Morbidades grassam. Quantidade e qualidade de serviços deixam a desejar. Relação custo/benefício negativa expõe a precária sustentabilidade do sistema.

Persistir nessa rota só é coerente com a lógica da economia capitalista. Reforça a dinâmica do consumismo supérfluo. Eleva o uso indevido de medicamentos, tecnologias diagnósticas e terapêuticas deslumbrantes, prática que atrai investimentos, aumenta produção industrial, gera emprego, amplia o comércio, aumenta a arrecadação de impostos. A economia robustece. A indústria agradece. A sociedade adoece. Quanto mais doença, mais lucro e benefício financeiro.

Para incorporar princípios éticos à condução das políticas públicas, urge mudar o sistema de saúde. Imediatismos nada resolvem. Mediatismos, muito menos. Dizer, por exemplo, que há falta de médicos no país é falar sem pensar. Na verdade, há excesso de doentes. O que falta é população sadia. A solução digna não é, pois, promover o boom de cursos médicos desqualificados para criar exército de reserva de tão complexa mão de obra. Cumpre inverter a prioridade das políticas do setor, investir na prevenção para erradicar causas das enfermidades que acometem os cidadãos com maior frequência. O único caminho é promover saúde no verdadeiro sentido, identificado com o bem-estar da cidadania.

Ministério e secretarias ditos da saúde precisam sê-lo de fato. Não passam de ministério e secretarias da doença. Recorrem a campanhas publicitárias ilusórias e eleitoreiras para fazerem crer que o sistema público vai muito bem.

Mantêm olhar de descaso para conhecimentos científicos da epigenética, cujos conteúdos exaltam a primazia dos cuidados preventivos sobre os curativos. Entendem que atenção primária é coisa simples e barata. Pode ser prestada por qualquer profissional, independentemente de sua formação. Ledo engano. O modelo chinês do médico pé descalço já era. Cuidado primário é tão complexo quanto o dos demais níveis de atenção. Exige visão abrangente e profunda da medicina, sem a qual se perde a oportunidade de dotá-lo das condutas preventivas e educativas capazes de reverter a atual falta de cultura sanitária.

A maioria das doenças do adulto tem início na infância. Para preveni-las, não há alternativa reducionista e simplificadora que se justifique. Quanto mais se respeita e valoriza o cuidado pediátrico qualificado nessa fase de vida, menor a prevalência de males futuros. Quanto mais intervenções educativas em saúde nos meios de comunicação, maior o potencial de bem-estar das pessoas. Quanto menos propagandas enganosas e merchandising na mídia, maior a chance de ambiente compatível com os requisitos de vida saudável. O universo do SUS vai muito além de UPAs, Samus e hospitais. Se não avançar no papel revolucionário que lhe cabe, continuará sendo um Sistema Ultrapassado de Saúde.

Dioclécio Campos Júnior é médico, professor emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, representante da SBP no Global Pediatric Education Consortium. Artigo publicado no Jornal Correio Braziliense, de 24 de fevereiro de 2013

A crise anunciada do Anel do Pescador que troca de mãos

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Na pauta do consistório convocado – assembléia ou reunião de cardeais presidida pelo Papa – constava apenas a discussão e decisão sobre três canonizações.

Tudo transcorria como de costume. Os integrantes do staff papal já estavam bem acomodados em seus assentos e o Pontífice já havia ocupado a agenda prevista. Tudo indicava que o protocolo daquela segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013, estava próximo do seu final.

Mas não foi bem assim. Assessores mais próximos perceberam que o Papa estava inquieto. Havia algo no ar daquele fatídico dia.

Foi nesse momento que Bento XVI retira da pasta um papel que ninguém tinha visto. E fez um corajoso e histórico pronunciamento.

No Vaticano, como de praxe em outros lugares do mundo, pronunciamentos são analisados em termos de forma e conteúdo, além, claro, da legitimidade dos atos e suas consequências. Não foi o caso daquele documento. Apenas o Papa sabia do que se tratava.

O Papa, então, lê o texto em claro e bom tom de voz. Declara-se incapaz de continuar em sua missão, relata que suas forças físicas e mentais se esgotam e anuncia que no próximo dia 28 de fevereiro apresentará renúncia.

O Secretário particular do Sumo Pontífice pensa consigo “Vamos com calma… deve haver um engano…” e aproxima seus olhos para aquele papel na suspeita de que um intruso o tivesse escrito e caiu por acaso na prancheta papal. O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, tosse e, rapidamente, busca respostas para as perguntas que ainda ninguém fez. Os Cardeais presentes se entreolham estupefatos.

Crises são assim. Mostram sinais imperceptíveis, pistas de algo que pode ocorrer, singelas pegadas na neve ou discretas marcas na história recente. Até que, em determinado momento a montanha vem abaixo, o trem descarrilha e as coisas parecem sair de controle. E não se tem a visão de um desenrolar lógico dos acontecimentos que levariam a um desfecho feliz.

Foi nesse processo que, hoje, identificamos fatos críticos na linha do tempo do Vaticano e na gestão de Bento XVI. O Mordomo, Paolo Gabriele, que vazou documentos pessoais; o Islamismo que prossegue sua histórica expansão; a interminável Segunda Guerra Mundial que, insistindo em se fazer presente, provoca declarações, suspeitas e desculpas; as distorções de comportamento sexual e escândalos públicos de integrantes da Igreja Católica; as invisíveis divisões eclesiásticas na clássica busca do poder; e as dificuldades em incorporar mudanças sociais e tecnológicas, entre outros sinais, apontavam que o fardo estava pesado demais para Joseph Ratzinger, um ser humano de 85 anos de idade.

O motivo da anunciada crise é simples: um cenário impensado! Os que sabiam das condições clínicas de Sua Santidade mantinham discrição e achavam que o fim do Papa seguia seu processo natural de declínio. Os que suspeitavam não se atreviam a lenvantar tal hipótese e os que contavam os anos apenas acompanhavam o dia-a-dia de Bento XVI.

O terreno das hipóteses é fértil pelos que analisam a situação gerada. Chegaram a imaginar um futuro processo de canonização, mas, com a renúncia, isso seria inviável. Pensam eles que o Papa assumiu o cargo para, como a maioria de seus antecessores, nele permanecer atá morte, desconhecendo os dispositivos legais do Código de Direito Canônico. Outros, ainda mais trágicos, formulavam a possibilidade de o sucessor vir a falecer antes de Bento XVI…

Anulus Piscatoris ou o Anel do Pescador é o símbolo oficial do Papa, o sucessor de São Pedro. O Anel era usado como um sinete, o reconhecimento oficial da documentação assinada pelo Papa. Ao renunciar e se enclausurar para reflexões e orações, o Anel que o então Papa Bento XVI portava será destruído.

A Capela Sistina receberá o colegiado de Cardeais e o mundo ficar à espera da celebração do conclave e da escolha do sucessor de Bento XVI.

Como inexiste evento de “passagem do cargo” no caso do Papa, durante a cerimônia de Tomada Papal, o escolhido receberá um novo Anel, que será colocado no quarto dedo da mão direita pelo Decano do Colégio dos Cardeais.

Novo Anel, mesmos problemas, velhas crises!

Homero Zanotta é proferssor de Comnunicação Social e integrante do Instituto Sagres

Copa de 2014: oportunidades e legado para a educação

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Após mais de três décadas da realização da última Copa do Mundo no continente sul-americano, já que a última foi na Argentina em 1978, contamos com oportunidades efetivas e definitivas de melhorias no que se refere aos aspectos educacionais.

Torna-se, portanto, imprescindível a projeção de cenários para a identificação das melhores práticas econômico-financeiras que surgirão, revelando caminhos a serem trilhados e oportunidades para diversas áreas e profissões, e refletindo na necessidade de melhor formação, pois somente com uma educação de qualidade seremos capazes de superar fragilidades e, consequentemente, fortalecer o país, com a finalidade de acolher evento de tamanha importância.

Recentemente, uma pessoa me relatou um fato considerado no mínimo inusitado, pois ilustra perfeitamente a necessidade das nossas empresas se prepararem melhor para receberem um evento do porte de uma Copa do Mundo.  Pois bem, por não estar se sentindo bem, ela foi para um atendimento em um hospital do Plano Piloto, em um domingo.  Durante o seu atendimento ouviu-se um movimento no corredor, com funcionários procurando nos consultórios médicos da emergência alguém que tivesse fluência no inglês para ajudar no atendimento de uma paciente.  Tratava-se de uma jornalista correspondente estrangeira.  Observou-se que apenas uma outra paciente conhecia o idioma, que se prestou a passar mais de uma hora ajudando os funcionários do hospital como intérprete durante todo o atendimento, só vindo a continuar a sua própria consulta médica após o recebimento de alta da paciente estrangeira.

Experiências passadas como as de Barcelona (que após as Olimpíadas triplicou o número de turistas por ano de 3 milhões para 9 milhões), a Copa da Alemanha e mais recentemente a Copa da África, devem ser avaliadas como subsídio para algumas decisões, tais como a identificação de um padrão mundial de atendimento.

Algumas áreas educacionais serão mais beneficiadas devido à natureza do evento, pois o mercado necessitará da melhoria da oferta de mão de obra qualificada, sobretudo em idiomas, na hospitalidade, na segurança das organizações, na construção civil, gastronomia, em gestão pública, hotelaria, sistemas de informação, relações internacionais, transporte e saúde, além do aparecimento de novas tecnologias e profissões voltadas para segmentos como comunicação e tecnologia da informação.

A educação a distância se consolidará definitivamente como uma grande aliada na formação, em um curto espaço de tempo, de milhares de pessoas nas diversas regiões do país.

É preciso considerar o enorme aporte cultural e a contribuição inestimável em todos os terrenos que a Copa do Mundo de 2014 proporcionará.  E a educação, como agente de integração e transformação social, será a grande aliada na garantia de melhorias definitivas na preparação de profissionais competentes, éticos e capazes de exercer a cidadania participativa, responsável e solidária.  Esse será o grande legado.

Fabiano de Souza Ferraz é Diretor de Gestão Acadêmica e Universitária da SAGRES e Mestre em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A evolução do capital humano no mundo globalizado

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A competitividade e a abertura internacional dos negócios têm levado as empresas a repensarem sobre seus métodos de administração, as operações internas, além de reavaliarem o perfil dos profissionais e o ambiente em que estão inseridas. Este ambiente como fonte de oportunidades mas, também, de ameaças, expõe as empresas a questões econômicas como taxas de inflação, de crescimento econômico, de desemprego, distribuição de renda, barreiras comerciais, além da observância dos ciclos econômicos (ou flutuações). Aspectos como a cultura, a tecnologia utilizada, a capacitação de mão-de-obra e as políticas governamentais também passam a ter uma maior dimensão em sua aplicabilidade para as empresas.

No atual cenário econômico e tecnológico, as transformações no mercado são constantes, obrigando os profissionais a se prepararem melhor para os grandes desafios. O advento da globalização criou um mundo em profunda integração, tornando letal o isolacionismo para as empresas e seus colaboradores que ainda se propõem a atuar de forma individualizada.

Para compreendermos a evolução do capital humano frente aos novos desafios internacionais é necessário conhecermos o passado a partir do mercantilismo, entre o século XV e o final do século XVIII. Período marcado pelos importantes descobrimentos marítimos e pela abertura de novas rotas comerciais. Com os descobrimentos, surge a concepção do sistema do monopólio colonial e, radicalmente, protecionistas.

Para os mercantilistas, o controle comercial pelo Estado centralizador era essencial, sobrando pouco espaço para a iniciativa privada. Como ideias centrais, o mercantilismo defendia a perseguição de uma posição superavitária da balança comercial; a proibição expressa de muitas importações e fortes controles sobre outras importações; o monopólio da exploração das colônias e da indústria colonial em favor da coroa; o entesouramento metalista como forma de obtenção da riqueza nacional, entre outros princípios menores. Portanto, nessa época, a liberdade comercial era muito restrita.

O capital humano continua sua caminhada em direção aos novos rumos mercadológicos e os países passam a organizar-se em blocos, como a União Européia e o Nafta

Com a chegada do Liberalismo, surge uma eclosão de pensamentos completamente divergentes às pregadas pelos mercantilistas. Surgem ainda os filósofos-economistas da escola clássica ou liberal, como Adam Smith, David Ricardo, Nassau Senior e John Stuart Mill. Esses pensadores pregam que o livre comércio é benéfico a qualquer nação. O propósito central é a de que a especialização internacional do trabalho e do capital humano leva os países a produzirem, com maior eficiência, aquilo que eles sabem fazer com maior facilidade ou cujos recursos existentes nos seus respectivos países assim os possibilitam a fazer. Como consequência da adoção dessas ideias, uma liberdade comercial sem precedentes, em âmbito internacional, dominou o cenário de então.

O capital humano continua sua caminhada em direção aos novos rumos mercadológicos e os países passam a organizar-se em blocos, como a União Européia e o Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio). Esse fato, aliado ao vertiginoso progresso da informática, da tecnologia das comunicações e da eletrônica potencializa a aproximação dos países, das empresas e das pessoas.

Neste cenário, a internacionalização, entendida como a globalização das economias e dos mercados, constitui um dos elementos chave do modelo que atualmente rege as relações econômicas, pois já não é mais viável que as empresas e os profissionais vislumbrem apenas as oportunidades do mercado nacional e para tanto, é preciso que sejam inovadores, busquem a excelência, conheçam a cultura, as tradições e os valores de outros países, aceitem e superem os desafios, adquiram novos conhecimentos e construam sua própria história.

Fabiano de Souza Ferraz é Diretor de Gestão Acadêmica e Universitária do Instituto SAGRES e Mestre em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

A atitude prospectiva

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“Conquiste quem você ama, consiga aquela promoção que tanto deseja, saiba mais sobre seu futuro e o modele do jeito que achar melhor” Cigana Íris do Oriente – Rio de Janeiro, RJ.

O título não é inédito. Na verdade, trata-se (somente o título) de um plágio declarado do artigo de Gaston Berger, publicado na francesa Revue Prospective n° 1, em 1958. Foi a primeira vez que o termo “prospectiva” foi cunhado, como “conjunto de pesquisas a respeito de fenômenos técnicos, tecnológicos, científicos, econômicos, sociais etc, que procura prever a evolução futura das sociedades”.

O significado é evidente, uma vez que se opõe a retrospectiva. Enquanto esta olha para o passado, prospectiva visa a projetar o futuro, em uma concepção linear do tempo. Contudo, essa aparente simetria é falsa, para todo aquele que se dedica a estudá-la.

Embora possa ser interpretado e reinterpretado ao sabor das idiossincrasias dos historiadores, o passado já aconteceu, e nada mais pode mudá-lo. Já o futuro não existe, e está por ser construído, mercê da capacidade e da vontade dos atores sociais. Todavia, é interessante notar como freqüentemente pessoas e organizações relegam ao segundo plano uma atitude pró-ativa em relação ao porvir, permanecendo envolvidas por sucessivos “tsunamis de cotidiano”, que não concedem tempo necessário para tão importante atividade.

As urgências e emergências do dia-a-dia, bem como a necessidade de apresentar resultados imediatos, levam a maioria dos dirigentes a pensar no presente e, no máximo, no curto prazo. Daí a necessidade de gestão estratégica, de longo prazo, que deve ser desenvolvida com a participação de profissionais qualificados, reportando-se diretamente aos mais altos escalões das organizações.

Gestão estratégica é um processo sistemático, planejado, administrado e executado pela alta direção da organização, buscando assegurar a continuidade, sobrevivência e crescimento futuros da empresa, através da contínua adequação de estratégias, capacitação, estrutura e infra-estrutura.

Incluindo técnicas e metodologias de planejamento, a gestão estratégica prospectiva permite projetar os possíveis cenários que poderão se formar, em longo prazo. Não se trata de prever o futuro, e sim de analisar as probabilidades, de modo a construir hoje os eventos que queremos ver realizados, amanhã. A estratégia também permite enxergar as possibilidades em todas as suas
dimensões, aproveitando as janelas de oportunidades e adotando medidas preventivas em relação às ameaças que, nos horizontes temporais visualizados, poderão impedir que os objetivos sejam conquistados.

… a gestão estratégica prospectiva permite projetar os possíveis cenários que poderão se formar, em longo prazo …

Isso explica casos de empresas como a Shell – que se preparou com vários anos de antecedência para a crise do petróleo que ocorreria na década de 70. Ou manobras como a da brasileira Stemac, fabricante de geradores elétricos do Rio Grande do Sul, que triplicou a receita por ter se articulado, em tempo hábil, para o “apagão” de 2001.

Nada disso, porém, pode ser possível se não houver riscos. O risco é inerente às grandes vitórias, e o estrategista sabe que, sem eles, não será possível otimizar as fortalezas e minimizar as debilidades das organizações. Utilizando um conceito de Einstein, em sua teoria do espaço curvo, é possível afirmar que as mais retumbantes derrotas e as mais espetaculares conquistas estiveram, em
determinados momentos da história, muito perto umas das outras.

Se você não acredita, consulte a cigana. Se não adivinhar o seu, pelo menos o futuro dela estará garantido, mediante pagamento à vista ou confirmação do depósito bancário.

Raul Sturari é Diretor de Prospectiva do Instituto Sagres

Esse artigo possui versão em pdf na nossa biblioteca

Lições para o Brasil sobre os atentados de Boston

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REALIZAÇÃO DE GRANDES EVENTOS NO PAÍS

O terrorismo internacional, dado o seu poder de infiltração em diferentes países e capacidade de gerar instabilidade na comunidade mundial, constitui-se em uma das principais ameaças da atualidade, real e crescente para a paz e segurança internacionais e para a estabilidade e soberania dos Estados. Especialistas acreditam que esse fenômeno constitui a Terceira Guerra Mundial, cujos alvos são, na maioria das vezes, democracias liberais do Ocidente.
Os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos da América (EUA) quebraram todos os paradigmas até então existentes, alçando a ameaça terrorista como principal elemento definidor de políticas no cenário mundial desde então.
Reconhecendo a gravidade dessa questão, a Organização das Nações Unidas (ONU) passou a considerar o terrorismo um dos cinco principais problemas globais, juntamente com o narcotráfico, a proliferação de armas de destruição em massa, as migrações e as agressões ao meio ambiente.
A sua expansão atual está atrelada ao crescimento do extremismo islâmico que, por sua vez, ampliou-se na esteira da disseminação de interpretações radicais do Islã, que se opõem a qualquer tipo de intervenção nos valores islâmicos e pregam o uso da violência – guerra santa (jihad) – como forma de defender e aumentar a comunidade muçulmana mundial.
A internacionalização do terrorismo tornou irrelevante definições nacionais quanto à probabilidade de ocorrência de atentados e ao desenvolvimento de outras atividades ligadas a esse fenômeno, pois o mesmo tende a atuar onde existirem vulnerabilidades que possam ser exploradas. Nesse contexto, torna-se plausível que países sem histórico de atividades terroristas tornem-se alvo ou palco do terrorismo simplesmente por reunir condições favoráveis à realização de atentados.
A necessidade de recrutamento e de formação de redes de apoio das organizações radicais tem feito com que seus membros busquem novos locais para atuação. Devido aos prejuízos e perdas impostas às suas estruturas por ações desenvolvidas e lideradas pelos EUA, esses grupos passaram a implementar novas formas de recrutamento e reorganização de elementos operacionais em regiões até então pouco exploradas.
Paralelamente a isso, vertentes religiosas como o “wahabismo” (corrente religiosa islâmica), por exemplo, visam organizar o Estado de acordo com a “sharia” (lei islâmica), em que tanto o governo quanto a religião estão integrados em um mesmo conjunto. Alas radicais desse movimento inspiraram organizações extremistas em muitos países, como por exemplo a Al-Qaeda e suas afiliadas.
A análise de inúmeros atentados terroristas que ocorreram ao longo dos últimos anos permite identificar características gerais comuns ao fenômeno, não importando a orientação ideológica, causa defendida ou motivação política. Em sua definição corrente, entende-se o terrorismo, ou sua ameaça, como ação premeditada visando a atingir, influenciar, intimidar ou coagir o Estado e/ou a sociedade, com emprego de violência.
O primeiro aspecto que representa uma caracterização própria de ato terrorista é aquele que é perpetrado por pessoa ou grupo com apoio de uma estrutura/organização, sendo, portanto, uma ação propositada e planejada visando provocar o maior dano possível, seja à população, à instalações físicas ou à instituições nacionais.
Além disso, a sua natureza é indiscriminada, ou seja, todos são alvos, independente de sua posição na sociedade. Justamente essa falta de especificidade é que ajuda a disseminar o medo, pois “se não existe um alvo em particular, ninguém pode se sentir seguro”‘.
Não se pretende, com essa afirmação, excluir a possibilidade de que existam alvos humanos individuais ou coletivos específicos, o que de fato existe. Entretanto, ao se atingir alvos aleatórios, não previamente definidos, o temor de que outros venham a ser feridos torna-se generalizado e dá mais força ao movimento, pois o seu efeito psicológico, normalmente, terá muito mais amplitude e ressonância do que simplesmente os prejuízos físicos.
Também existem outros riscos associados à estabilidade do Estado, que são as ações de extremistas organizados ou reunidos por ideologias excludentes, religiosas ou não, que podem recorrer a atos terroristas. No rol dessas ações estão as que, impedindo, sabotando, transformando e desestruturando, poderão atacar a base estrutural, econômica e social de um país. A probabilidade de atos que venham a ocorrer, por exemplo, sobre sistemas de informação e comunicações poderá ser considerada uma ameaça terrorista tanto quanto a de sabotagem de redes energéticas.
Com isso, o terrorismo por si só é um crime, e como tal, associa-se a crimes conexos que lhe possam suprir meios ou ainda facilitar suas ações, aproveitando-se da forma mais segura disponível à consecução de seus planos, como, por exemplo, associar-se com o crime organizado para atingir objetivos paralelos e coincidentes de ataque a determinadas estruturas governamentais.
Boston
Depois de atenderem às vítimas das explosões que ocorreram na maratona de Boston e de o presidente Barack Obama ter classificado o acontecimento como ato terrorista, as autoridades estadunidenses passaram a se dedicar exclusivamente a responder à mesma pergunta feita pelas vítimas: quem é(são) o(s) culpado(s) e por que motivo cometeu(ram) os ataques que deixaram ao menos três mortos e 176 feridos, com 17 em estado grave. No mínimo dez pessoas tiveram algum membro amputado.
O Federal Bureau of Investigation (FBI) descobriu que havia no local um circuito eletrônico que teria sido usado para detonar as bombas e confirmou que foram recuperados restos de bolsas de náilon deixadas em cantos e na calçada da Rua Boyslton, que podem ter sido usadas para acomodar panelas de pressão, que tinham em seu interior pregos, parafusos e estilhaços de metal.
Investigadores encontraram indícios de materiais utilizados para fabricação caseira desse tipo de bomba no local do atentado, isso os levou a suporem menor grau de profissionalismo dos perpetradores do atentado. Apesar de improvisado, esse tipo de artefato é letal. O detonador pode ser acionado por controlador de tempo que é comumente usado na cozinha.
Funcionários de hospitais da região relataram que, apesar de terem membros amputados, pacientes demonstraram certo alívio por continuarem vivos. A maior parte das vítimas chegou com pregos e estilhaços cravados em seus corpos.
Segundo os médicos, as bombas foram construídas para causarem o máximo de ferimentos possível, forçando os profissionais a fazerem amputações imediatas, especialmente nos membros inferiores. Para os cirurgiões esses ferimentos são comparáveis aos de bombas improvisadas usadas na Guerra do Iraque.
O recurso foi amplamente utilizado contra forças americanas no Afeganistão, Iraque e Paquistão. Atentados atribuídos a movimentos extremistas do Paquistão e da Índia também foram cometidos com essas panelas, feitas de metal grosso, herméticas. O alcance estimado da onda de fragmentos das explosões em Boston supera os 70 metros e pode ainda ter ido mais longe.
As forças de segurança dos EUA já tinham conhecimento há algum tempo que o braço da Al-Qaeda no Iêmen ensinava, pela internet, a fabricar bombas caseiras com panelas de pressão. Segundo o FBI, a tentativa frustrada de atentado em Nova York, em maio de 2010, também usava bomba em panela de pressão.
Esse novo atentado motivou precauções extras de segurança nos EUA. Dois passageiros e suas malas foram retirados de voo no aeroporto de Boston com destino a Chicago. Em Nova York, um dos terminais do aeroporto LaGuardia foi esvaziado depois da descoberta de pacote suspeito.
Os governos de George W. Bush e Barack Obama criaram enorme aparato para rastrear terroristas. Mas autoridades sempre alertaram que os EUA não conseguiriam impedir ataques em solo americano. Em alguns incidentes, elas contaram mais com o benefício da sorte do que com habilidade de investigação.
Menos de três meses depois do 11 de Setembro, Richard Reid levava no sapato explosivos que pretendia detonar em voo de Miami a Paris. Oito anos depois, Umar Farouk Abdulmutallab planejava detonar explosivos escondidos em suas roupas em voo próximo de Detroit. Nos dois casos, as bombas não explodiram corretamente.
Em outros dois incidentes, as autoridades conseguiram frustrar as ações. Em setembro de 2009, complô para explodir o sistema de metrô de Nova York, por membro da Al-Qaeda, foi desbaratado. Em maio do ano seguinte, a Times Square, em Nova York, foi esvaziada após descoberta de carro-bomba deixado ali por Faisal Shanzad.
Nesse momento está com as autoridades americanas a missão de desvendar a autoria e motivações das explosões em Boston. O que for apurado certamente irá contribuir para compreender melhor fatos como este e para que os demais países adotem medidas preventivas capazes de pelo menos reduzir os riscos dessas ações contra a sociedade.
Em 17 abr. 2013, europeus realizaram o maior exercício antiterrorista no continente, reunindo forças especiais de nove países que integram a União Europeia, com testes e simulações de reações a eventuais ataques terroristas.
O objetivo foi o de mostrar reação em caso de ataques simultâneos nos países que participaram dessa atividade. O exercício faz parte de ação denominada Desafio Comum, no âmbito de associação formada por unidades de forças especiais dos 27 Estados-membros para melhorar a cooperação e troca de experiências.
Por outro lado, a representante permanente dos EUA na Organização das Nações Unidas (ONU), embaixadora Susan Rice, em conversa com o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, que tratos de vários assuntos, entre eles: as explosões em Boston; a crise na Síria; a tensão em países africanos; e a proposta brasileira de ampliação do Conselho de Segurança da ONU (CSNU).
No entanto, o tema principal foi o aumento da preocupação com a segurança dos países nos eventos esportivos e nos EUA, principalmente, devido aos atentados de Boston, que alertaram os responsáveis nacionais pelas áreas de segurança dos grandes eventos para os próximos anos.
Em fevereiro de 2013, acordo relacionado à realização dos grandes eventos ocorreu entre os ministérios da Justiça e Defesa e incluiu ações de defesa cibernética, combate ao terrorismo e serviços de segurança e Inteligência.
Além disso, o mesmo definiu de quem seriam as responsabilidades durante a realização da Copa das Confederações 2013 e Copa do Mundo da Fédération Internationale de Football Association (FIFA) de 2014 e Olimpíadas de 2016, ficando com o Exército a coordenação de medidas ligadas ao terrorismo, que também será responsável pelo contraterrorismo (medidas ofensivas, como ataques pontuais a grupos inimigos, visando prevenir, dissuadir ou retaliar seus atos).
Já a Polícia Federal (PF) e a Agência Brasileira de Inteligência – ABIN (que avalia como baixo o risco de atentado durante esses eventos), cuidarão do antiterrorismo (medidas preventivas e defensivas para investigar, obter informações de Inteligência e identificar possíveis vulnerabilidades que facilitem atentados). Quanto às polícias estaduais, as mesmas ficarão focadas em segurança pública, policiamento urbano, Inteligência e prevenção.
O governo dividiu a segurança em três eixos: ameaças externas, proteção de portos, aeroportos e fronteiras, e ameaças internas. Com isso, aumentam as chances de sucesso no combate de qualquer atividade extremista em tempo real.

No entanto, o alerta que vem dos Estados Unidos interessa particularmente ao Brasil, em preparação para uma série de eventos internacionais.

O primeiro grande teste acontecerá em junho, na Copa das Confederações. Em julho, o país será sede da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), promovida pela Igreja Católica, que deve trazer o papa Francisco pela primeira vez ao Brasil. No ano que vem, será a vez da Copa do Mundo, e em 2016, das Olimpíadas.
O país sediará a Copa das Confederações entre 15 e 30 de junho de 2013. O jogo de abertura entre Brasil e Japão ocorrerá no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha e está marcada para 15 de junho. Em seguida, a cidade do Rio de Janeiro abrigará a JMJ, de 23 a 28 de julho de 2013.
Em 2014, 12 capitais brasileiras sediarão os jogos da Copa do Mundo FIFA de Futebol e, em 2016, os Jogos Olímpicos ocorrerão principalmente no Rio, sendo esses dois eventos considerados por suas entidades representativas, a FIFA e o Comitê Olímpico Internacional (COI), respectivamente, como eventos de projeção mundial e consequentemente alvos preferenciais do terrorismo.
Em nenhum outro período tão curto de tempo, o país acolheu tanta gente, como ocorrerá a partir de 2013. Preparativos intensos, que se iniciam agora, são decisivos para preservação de vidas e da imagem do Brasil. É o que as autoridades asseguram que vem sendo feito, com treinamentos aqui e no exterior e aproveitando o exemplo do que ocorreu em eventos anteriores desse porte.
Rio de Janeiro
Sede de sete partidas da Copa do Mundo FIFA de 2014 e das Olimpíadas de 2016, a cidade está em alerta depois dos atentados de Boston. Os organizadores da maratona do Rio, por exemplo, que será disputada em 7 de julho de 2013, já trabalham para aumentar a segurança da corrida. Representante de uma das empresas organizadoras do evento ressaltou que a atenção com a integridade física dos 20 mil atletas inscritos ficou maior.
A JMJ acontece de 23 a 28 de julho e o seu primeiro evento está previsto para acontecer na Praia de Copacabana, no dia 23, quando o arcebispo do Rio celebrará missa. O evento não contará com a presença do Papa.
Na previsão dos organizadores da JMJ, ele só deve chegar no dia 25 de julho, quando será celebrada cerimônia de sua acolhida. Militares envolvidos no planejamento da segurança informam que o Papa deverá participar de três missas. Além da última, em Guaratiba, sua presença é esperada em Copacabana e na Catedral Metropolitana, no Centro.
Também está praticamente confirmado que ele ficará hospedado na Arquidiocese do Rio, no bairro Sumaré. Em Guaratiba haverá dois eventos. Em 27 de julho, a vigília com o Santo Padre reunirá peregrinos em noite de orações, em que todos irão se preparar para o evento do dia seguinte: missa celebrada pelo Papa, que marca o encerramento da JMJ Rio 2013.
Com a promoção desses e outros vários eventos que deverão ocorrer até 2016, essa cidade, sem dúvida nenhuma, é no momento um dos principais alvos de organizações e grupos extremistas, sejam eles de caráter radical islâmico ou de outro matiz.
O Brasil defende constitucionalmente a promoção da paz e a resolução pacífica de conflitos. Mas a eficácia no combate ao terrorismo depende, por exemplo, tanto da implementação de novas políticas voltadas para a segurança e defesa quanto da reavaliação de acordos internacionais, sobretudo na esfera regional, como os assinados, por exemplo, no âmbito do Mercosul sobre isenção de vistos, ingresso privilegiado em aeroportos e documentação requerida para trânsito de cidadãos entre os países membros – lembrando sempre que existem vulnerabilidades crônicas de segurança em países vizinhos como o Paraguai, em especial na Ponte Internacional da Amizade, que liga Ciudad Del Este a Foz do Iguaçu/PR.

No nosso país não há motivação terrorista de caráter religioso, dado o histórico de assimilação cordial de diferentes grupos étnicos e culturais na sociedade, característico da formação da nação brasileira. Muito provavelmente foram esses graus de integração social e de universalismo da política externa brasileira que até o momento preservaram o País de ameaças e ações destrutivas de grupos extremistas e que permitiram cada vez maior inserção econômica e atuação política do Brasil em mercados e foros culturalmente diversificados.

Por outro lado, impõe-se cada vez mais a necessidade de reformular conceitos, como diferenciação clara entre ameaças internas e externas, e adotar parcerias com outros países para efetivamente neutralizar a atuação do terrorismo. Portanto, é só por meio da cooperação conjunta é que os estados poderão adquirir maior estabilidade e manter sua soberania.
Cabe aos respectivos governos prepararem-se para isso e estimularem especialmente o trabalho de Inteligência (que atua precipuamente no campo preventivo, sendo essa a área estatal em melhores condições de combater esse fenômeno), buscando a certeza do conhecimento e a antecipação dos fatos.
Contudo, no Brasil, ações tipicamente terroristas constituem-se, no momento, uma média possibilidade. Entretanto, deve-se considerar a atual tendência de crescimento do terrorismo no mundo, com a globalização de suas atividades e constante mutação. Dessa forma, métodos e procedimentos de grupos extremistas internacionais poderão passar a ser utilizados por organizações ou indivíduos nacionais.
Paralelo a isso, devem ser ouvidos e avaliados alertas de entidades representativas de servidores federais, que têm demonstrado preocupação com possível falta de pessoal para atender a todas as tarefas de segurança, que advertem para o fato de que a concentração de pessoal de ponta nas demandas dos eventos pode, no caso da Polícia Federal, por exemplo, deixar a descoberto o combate ao contrabando e ao tráfico de drogas, além da possibilidade de que algumas dessas categorias venham a usar esse período para realizarem greves.
Esses receios merecem atenção total dos envolvidos com a proteção aos participantes desses eventos. Atentados como o que abalou Boston e o mundo podem ter causas diversas e obviamente merecem o repúdio internacional. Mas manifestações de indignação são insuficientes para evitarem atentados ou terem seus danos reduzidos, especialmente em eventos que atraem as atenções e pessoas de todos os continentes.
Por isso, o Brasil deve evitar que a área de segurança e Inteligência repita os mesmos erros que vêm ocorrendo na execução dos projetos de engenharia, que têm abalado a reputação do país por conta de deficiências de gestão que provocam atrasos nos cronogramas, queda na qualidade das obras, desperdícios e superfaturamento.
O País vem mantendo a posição de não-existência de terrorismo em seu território, mas até quando isso permanecerá, pois há um quadro conjuntural que torna o território nacional vulnerável às pressões internacionais, com o recente surgimento de ações de grupos extremistas.
E o Brasil, mediante essa nova realidade, precisa, entre outros, de instrumentos legais modernos para enfrentar esse fenômeno, dando resposta efetiva à comunidade internacional, como tipificar penalmente o terrorismo, principalmente agora que o País está sob os holofotes mundiais pela realização dos grandes eventos, tornando-se alvo preferencial de organizações como a Al-Qaeda.
Por fim, as autoridades governamentais e os legisladores devem ter em mente existência de várias convenções e resoluções internacionais sobre a matéria, considerando que no âmbito externo o país precisa assumir suas obrigações, evitando, assim, futuras sanções e ainda exposição negativa desnecessária que possa vir a prejudicar as suas pretensões quanto ao assento permanente no CSNU, e internamente, ter como premissa o estabelecimento de entendimento jurídico unificado do que é o terrorismo e seu eficaz combate e resposta imediata à essa ameaça.
Portanto, nesse momento o terrorismo é um assunto de abrangência mundial e nenhum país pode dizer que está a salvo dos seus efeitos. O Brasil tem desempenhado seu papel, em diversos fóruns internacionais, no sentido de combater e eliminar esse mal, e apesar de, até o momento, não ter sofrido ação direta perpetrada por organizações radicais, não pode descartar que venha a ocorrer a qualquer momento, até pelas suas características de imprevisibilidade, e temos que estar preparados para enfrentar esse desafio ao longo dos próximos anos.

REFERÊNCIAS:

  • http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2013/04/17/carta-com-substancia-suspeita-e-enviada-para-obama.htm
  • http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/04/pacotes-suspeitos-sao-encontrados-no-capitolio-em-washington-diz-tv.html
  • http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-04-17/europeus-fazem-exercicio-para-simular-reacao-ataques-terroristas
  • http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-04-17/representante-norte-americana-na-onu-conversa-com-patriota-sobre-explosoes-em-boston-e-operacoes-de-p
  • http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/04/ataque-de-boston-preocupa-governo-para-copa-das-confederacoes.html
  • http://esportes.r7.com/esportes-olimpicos/noticias/atentado-em-boston-faz-maratona-do-rio-reforcar-seguranca-20130417.html

Paulo Paniago

O Brasil em chamas

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Na verdade, as manifestações são contra a incompetência, a desonestidade, a corrupção, a enganação, a mentira. São contra as obras inacabadas, superfaturadas, mal feitas, não fiscalizadas e por conta da insegurança dos cidadãos brasileiros, das péssimas condições da saúde pública, a ineficiência do sistema educacional.

O pivô

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O conceituado historiador e professor britânico Timothy Gardon Ash escreveu, recentemente, no periódico The Guardian, um texto a cerca dos desafios e características dos dois “novos” líderes internacionais de peso mundial: Barack Obama, nos EUA, e Xi Jinping, na China. Ele bem resume quando afirma que ambos chefes de Estado terão seus próprios embates domésticos, mas que deverão estar juntos nas tratativas de sustentar suas políticas externas sem provocar incômodos para seus parceiros comerciais e estratégicos.

Dentre os maiores problemas dos norte-americanos destacam-se a dívida e o déficit públicos, a questão da saúde pública, a inoperância paralítica do Congresso, a infraestrutura e as escolas em péssimas condições, alem da ainda crescente dependência do petróleo importado que, a princípio, poderá estar solucionada a partir de 2017, conforme prevêem especialistas do setor.

Já para com a China, a meu juízo, é difícil conhecer, profunda e concretamente, a extensão dos seus problemas, haja vista o impedimento oficial da imprensa de tratar livremente sobre eles e, quando são mencionados, os fazem por meio de órgãos do aparelho estatal e partidário, mascarando a realidade com uma linguagem ideológica quase que cifrada para os que não participam do poder daquele país. Entretanto, é fato que dois dos seus maiores desafios giram em torno do desenvolvimento econômico chinês e na solução dos graves impactos ambientais, fora o louvável desejo da nova classe media chinesa que clama por uma também nova política interna, constituída, principalmente, de direitos sócio-humanitários e de liberdade de expressão.

A política externa aplicada pelos democratas americanos, alterando a hierarquia das suas prioridades para com a Ásia, indica o retorno de um poder aéreo e naval superiores na região depois do término dos conflitos no Iraque e no Afeganistão. Essa mudança de eixo, denominada de “pivô”, não é bem vista pelos chineses, e sim como uma estratégia hostil para pressionar, quem sabe, uma China emergente, tanto no campo econômico, bem como no militar, apesar dos desafios domésticos acima mencionados que o novo governo chinês terá pela frente.

Acadêmicos japoneses 1 questionam o significado concreto da expressão pivô no que tange à política americana de segurança na Ásia, em face das novas medidas adotadas por Obama para expandir e aprofundar as relações com os Estados asiáticos vizinhos da China, não só aumentando a presença militar americana, mas também firmando acordos de livre comércio que excluem a China. Furiosa, Pequim interpreta esses atos como resistência à sua liderança naquele continente. Será que os EUA manterão sua postura de aliado do Japão na recente disputa de um pequeno arquipélago 2 perante a China?

O importante ator regional e aliado dos EUA, a Austrália, externa, mais uma vez, que os parceiros asiáticos dos Estados Unidos desejam a sua permanência na região, mas com uma nova forma de conduta: em vez de uma poder de primeira grandeza, atuando, agora, como um poder estabilizador3. Entendo que essa concepção seja antagônica pois não é validada em momentos de crise político-estratégico regional. Os aliados norte-americanos exigem não só a presença do poder militar dos Estados Unidos mas, sobretudo, contam com seu “escudo” protetor perante as constantes “ameaças de agressões” por parte de Estados beligerantes como, por exemplo, a instável Coreia do Norte. É o caso do Japão e de Taiwan que, apesar de manterem uma relação forte econômica e comercial e, ao mesmo tempo, vínculos militares tradicionais com os americanos, não desejam ser forçados a optarem entre Pequim e Washington.

Xi não sinalizou mudança na política interna na crescente modernização das suas forças armadas, especialmente a Marinha e a Força Aérea, pois seu propósito, claramente assegurado pelo atual líder chinês, Hu Jintao, é e continuará a ser o de alterar a ordem regional estabelecida apos a 2a. Guerra Mundial, antes com um domínio único dos EUA, substituindo por outra onde os chineses tenham, no mínimo, tanto poder quando os americanos nas regiões de seu interesse de influência. É sabido que o projeto de poder do Estado chinês, de médio e longo prazos, inclui o domínio das linhas marítimas do entorno Asiático até o ano de 20154 e da parcela ocidental do oceano Pacífico até 2050 5. Neste sentido vale ressaltar o empenho em incorporar um novo e poderoso meio naval de 1a linha, o porta-aviões Liaoning 6, e o novíssimo projeto de substituição de seus submarinos estratégicos nucleares, em fase de concepção.

No Vietnã, que sempre foi cauteloso para com os chineses, Obama também aperfeiçoou as relações econômicas a ponto de criar elos mais fortes do que seus vizinhos chineses 7. Hanói deseja “uma maior presença dos EUA na Ásia, a fim de permitir um melhor equilíbrio de poder na região” 8, e existe a possibilidade do governo vietnamita convencer Washington a permitir que sua marinha use o porto estratégico de Cam Rahn Bay 9, uma solução barata que contribui para a estratégia americana na Ásia, apesar de Pequim não aprovar.

O novo chefe do Estado Maior Conjunto dos EUA, General E. Martin Dempsey, do Exército norte-americano, tem usado sua autoridade para tratar algumas questões bem difíceis e complexas. Um dos temas preferido e frequentemente mencionado trata do “paradoxo da segurança”. Afirma, corretamente (in verbis), que “vivemos em uma era em que a violência se encontra em um patamar menor, haja vista os conflitos entre Estados serem muito menos prováveis do que no passado. O problema é que outras modalidades de violência têm uma probabilidade exponencialmente superior de ocorrer dada a evolução da tecnologia da informação, permitindo que organizações, indivíduos e nações de porte médio, se assim desejarem, adquirem competências que até agora eram próprias dos grandes Estados”.

O sistema de alianças liderado pelos EUA, com base em seus inigualáveis recursos militares convencionais e na capacidade confiável de arsenal nuclear (vetores e armas) em uma segunda ofensiva, provavelmente dissuadiu alguns conflitos entre países até hoje, e assim permanecerá, a meu ver, pelas próximas décadas. A China tem um longo e custoso caminho a percorrer para alcançar seus propósitos estratégicos no mar e o Ocidente conhece sua tenacidade para alcançá-los, ainda mais pela noção temporal distinta da nossa que é, digamos assim, mais “imediatista”.

Joseph Nye Jr relança, com oportunidade, seu conceito de poder inteligente (ou relacional) no qual combina o “poder duro” (Hard Power) da coerção e do castigo com o “poder brando” (Soft Power) da persuasão, do convencimento e da atração 10. Hoje em dia tais conceitos praticados durante a guerra fria, no meu sentir, não são mais aceitáveis quando analisados isoladamente, pois entendo que se um sujeito do Direito Internacional conseguir que outros atores queiram os mesmos resultados que os seus, não será mais necessário anular seus desejos iniciais. Este alcance desobriga o emprego da força na sua modalidade mais radical, desde que haja a combinação adequada para a crise em foco a fim de moldar as preferências dos outros atores, afetando suas expectativas do que é legítimo ou mesmo factível. Em suma, o importante é que seja possível concentrar na capacidade de influenciar esses outros atores para que ajam de maneira contraria às suas preferências e estratégias iniciais.

Apesar do paradoxo de Dempsey e dos desafios ora apresentados, estes não devem alterar o importante papel de prevenção e de dissuasão das forças armadas dos EUA, que permanecem com estrutura, recursos e predisposição para buscarem soluções militares, aplicando, com sabedoria, o poder relacional que lhe sobra ainda com abundância para cada um dos cenários a serem apresentados na Ásia, quer no campo econômico-comercial, quer nas questões político-estratégicas, especialmente nos espaços marítimos asiático e do Oceano Pacífico.

  1. Prof. Fumiaki Kubo, da Universidade de Tóquio.
  2. Mapa 1 – Ilhas Senkaku (Japão) e Diaoyu (China)
  3. Hugh White, da Universidade Nacional da Austrália.
  4. Mapa 2 – Mar da China Meridional com áreas de conflito de interesse (reivindicação de Estados).
  5. Mapa 3 – espaços marítimos compreendendo uma parcela do O. Pacífico (estratégico).
  6. Imagens 1/2 – Ex-Varyag (da antiga URSS). Desenho esquemático do navio e foto.
  7. A China apoiou Hanói em sua guerra de independência, mas ainda persiste uma rivalidade que remonta a séculos com o Vietnã.
  8. Prof. Nguyen Thy Nhan, da ViatFund Management.
  9. Mapas 4 (a/b) – Localização do porto e o Estado do Vietnã na Ásia.
  10. Nye Jr, Joseph S. O futuro do poder. São Paulo: Benvirá, 2012.

Roberto Carvalho Medeiros é Doutor em Ciências Navais – Política e Estratégia Marítimas pela Escola de Guerra Naval (EGN – 2002)

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