O jogo da imitação: o que fazer com a inteligência

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O JOGO DA IMITAÇÃO é filme de sucesso. Mostra a saga de Alan Turing para quebrar os códigos da Enigma, a máquina de criptografar mensagens da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.

O título do filme surge a partir da questão proposta por Turing a respeito da pergunta se as máquinas pensam… “talvez elas não pensem como os humanos”, sugere a resposta dada pelo ator britânico Benedict Cumberbatch que interpreta Turing.

O desenrolar do enredo cinematográfico dirigido pelo norueguês Morten Tyldum trata de um dilema que nos choca: o que fazer com mensagens decifradas? Salvar vidas, impedir mais destruição ou ganhar a guerra?

Transpondo essa ideia para o mundo de hoje talvez estejamos diante de algo bem semelhante: o que fazer com a inteligência gerada pelas informações que nos chegam a todo o momento?

Possuímos assustador volume de dados, estudos e análises. São públicos e fáceis de serem encontrados. Indicam tendências e fatos futuros que, em alguma época, acontecerão. Mas isso não é coisa de hoje ou de ontem. Também não é história de ficção científica ou de especulação visionária.

Como o Brasil deve conduzir estratégias por melhores condições de vida com relação à educação, saúde e segurança? A demanda por mais energia não era esperada? E o que dizer a respeito da água, a possibilidade de faltar seria muito difícil de imaginar? As questões de mobilidade urbana, quando terão o tratamento adequado? E as demandas sociais do aumento populacional juntamente com as alterações sensíveis na pirâmide etária, causando significativo aumento de idosos, quando terão tratamento adequado? Isto sem falar de investimentos em tecnologia, controle de endemias, ausência do Estado Brasileiro em áreas críticas como faixa de fronteira e Amazônia e um leque sem fim de problemas.

Parece o caso da Enigma onde as mensagens eram codificadas e indecifráveis! Naquela época a solução ficou por conta das máquinas de Turing.

E hoje? O que fazer com a inteligência enquanto fator de tomada de decisão? Penso que são casos que seres humanos podem resolver!

Homero Zanotta é consultor do Instituto Sagres

Os benefícios do compliance

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As constantes notícias sobre corrupção nos fazem pensar se, algum dia, nos livraremos dessa praga que insiste em desmentir os dizeres de nossa bandeira. Segundo a FIESP, a corrupção no Brasil drena quase 3% do PIB, ou seja, nossa renda per capta seria 15% maior se fossemos honestos!

O ente público tem um longo caminho a percorrer na busca pelo saneamento de suas fileiras, na seleção e na capacitação de seu quadro funcional, e na melhoria de suas práticas de trabalho. O mundo corporativo também precisa adotar medidas severas que contenham e desencorajem as tentativas de fraude, de corrupção ativa e passiva, por ação ou omissão, não só pela aplicação de sanções como, também, concedendo prêmios aos que se mantenham íntegros, deixando o colaborador diante de uma escolha: faço o certo e sigo em frente, ou faço o errado e minha vida na empresa pode acabar aqui?
O efeito educador de se fazer o certo (e ser recompensado por isso) espalha-se pela exemplaridade e precisa vir de cima (top-down).

A corrente do “só faço o que é correto” tende a firmar-se nas organizações, que são compostas em sua maior parte por pessoas de bem, as quais, lideradas e unidas, desenvolverão o sentido do pertencimento.

"Estar conforme mandam as normas"

“Estar conforme mandam as normas”

Os excluídos terão de se organizar para sobreviver, ficarão sem ambiente e acabarão por deixar rastros que poderão ser seguidos.

Esses são alguns benefícios da prática diária do compliance, cuja tradução livre seria “estar em dia com as regras vigentes” ou “estar conforme mandam as normas”. Muito mais que um código de posturas, trata-se de uma cultura a ser aceita e adotada pelo corpo funcional, público ou privado, de não conviver com o erro, ser ético, acertar da primeira vez, encantar o cliente e orgulhar-se em pertencer a tudo isso.

Eugenio Moretzsohn é especialista em Contrainteligência em compliance

O valor da informação

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Muito se tem escrito sobre a importância da informação. Para decidir sobre qualquer coisa, precisamos de informações, preferencialmente claras e oportunas, o que, de forma alguma, é novidade.

Sun Tzu, que viveu na China na época dos Reinos Combatentes, entre 400 e 320 a.C nos ensina no clássico “A Arte da Guerra”: “Se um soberano iluminado e seu comandante obtêm a vitória sempre que entram em ação e alcançam feitos extraordinários, é porque eles detêm o conhecimento prévio e podem antever o desenrolar de uma guerra”.

Na chamada Sociedade da Informação ou do Conhecimento, mais do que nunca, a informação é vital para o processo de tomada de decisão de Estados, empresas, órgãos públicos, ONGs, instituições, partidos políticos, etc… Com a ampliação dos meios de comunicação e, conseqüentemente, democratização da informação, cerca de 80% das informações necessárias para subsidiar os processos de tomada de decisão públicos ou privados estão disponíveis.

Isso, em tese, facilita em muito a fase da coleta dos dados que serão transformados em informação. São oriundas, portanto, de fontes chamadas abertas. Paradoxalmente, há uma dificuldade em sistematizar e processar um volume significativo de dados e uma das soluções encontradas é o uso de softwares de análises qualitativas e quantitativas de dados.
As informações provenientes de dados obtidos de fontes fechadas (20%) possuem, naturalmente, um valor mais expressivo e são disponibilizadas, particularmente, pela rede de contatos dos coletores de informação, dos analistas e dos gestores de inteligência.
Por outro lado, não basta produzir a informação no prazo previsto. É necessário disponibilizá-la para quem tem a real necessidade de conhecê-la. Além disso, é fundamental proteger o conhecimento gerado, quando esse contiver aspectos estratégicos para a organização que o gerou.

Desta forma, a Inteligência representa uma ferramenta estratégica que permite à alta gerência melhorar sua competitividade, identificando as principais forças propulsoras e prevendo os futuros rumos do mercado. É um processo onde as informações de múltiplas fontes são coletadas, interpretadas e comunicadas a quem precisa delas para decidir.

O valor da informação

A dificuldade em sistematizar e processar um volume significativo de dados

Oferecendo apoio seguro à tomada de decisões estratégicas, a função Inteligência prevê oportunidade e ameaças, acompanha e avalia os concorrentes e orienta a implementação eficaz de novos negócios.

No setor público, permite o conhecimento e a antecipação de ações pelos agentes públicos no sentido de proteger a sociedade, antecipando-se às ameaças, e possibilitando a conquista e manutenção da vantagem estratégica perante os demais atores do ambiente.

Usada com sabedoria, a Inteligência pode ser vista como uma ferramenta de apoio ao processo decisório, oferecendo uma reflexão organizacional pró-ativa, oportuna e focada no futuro, que pode definir o sucesso ou fracasso de uma organização ou da sociedade.

Mario Andreuzza é presidente do Instituto SAGRES Política e Gestão Estratégica Aplicadas

Análise da Dinâmica de Atores

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Embora expressões como proatividade e gestão proativa constem do discurso da maioria dos gestores, infelizmente grande parte das organizações ainda tenta entender as consequências, para si ou seu nicho, dos fatos anunciados pela mídia na semana anterior. Na verdade estão reagindo ao que já está consumado.

ANÁLISE DA DINÂMICA DE ATORES: produto da Inteligência, insumo para a gestão estratégica. (Artigo publicado na Revista eletrônica O Debatedouro (MAIO 2014 | EDIÇÃO 84) no site O Debatedouro).

A quarta Força armada brasileira

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Os tradicionais três espaços de emprego da força estão cada vez mais carentes de um novo eixo de aplicação de capacidades inovadoras no campo da TI, tanto de forma autônoma, bem como em proveito das ações empreendidas no mar, na terra e no ar.

Por que o Brasil tem interesse em desenvolver submarinos nucleares

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Este estudo tem o propósito de contribuir para o entendimento da opção política em investir na pesquisa, desenvolvimento, construção de navio submarino com propulsão nuclear para emprego e aplicação pela Marinha do Brasil (MB), dentro do programa denominado PROSUB (Programa de Desenvolvimento de Submarinos)

Um novo mapa da indústria global

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Por isso, o movimento de realocação para o Ocidente não significa somente desmontar fábricas na Ásia e remontar nos EUA. Trata-se, em muitos casos, de modernizar as estruturas de produção com o que há de mais avançado em matéria de robótica.

Uma afronta ao Direito Internacional Público

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E se houvesse uma reação física da autoridade policial da Bolívia sobre o comboio de veículos dentro do território boliviano, com risco à integridade pessoal do diplomata, do parlamentar e dos fuzileiros navais brasileiros para impedir a fuga do seu país?

Irã ainda não é confiável

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No atual momento da crise, que gira em torno do programa nuclear iraniano e do papel do Irã no ambiente regional que permeia o Oriente Médio e o Oriente próximo, é pura ingenuidade acreditar na pura boa fé das recentes manifestações externadas pelo recém nomeado presidente iraniano, Hassan Rohani.

O Brasil e a integração Sul-americana

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Quais são exatamente as possibilidades de conflito na área de Defesa na América do Sul, se as nações estão perdendo seu “monopólio do emprego da violência” com as chamadas novas ameaças? Que tipo de integração ou arranjo regional pode fazer frente a nações de fora da região ou a um grupo hostil não Estado?

Os geoeconomistas, e outras pessoas desatentas à realidade do relacionamento entre Estados, argumentam que os países se desenvolvem e os conflitos na área de Defesa diminuem, numa região, quando as nações se integram e se tornam dependentes uma das outras, principalmente no comércio e na economia.

É certo que a interdependência cria laços entre as nações, mas o que se observa é o fato que com o correr do tempo, o relacionamento torna-se mais difícil e complexo.

A interdependência (Integração) das nações de uma região faz crescer riscos de consequências imprevisíveis. A ignorância frente a uma enorme complexidade de interesses diferentes debilita os vínculos entre objetivos e ações previstas em estratégias comuns, e incrementa as soluções conjunturais, nem sempre as mais acertadas e de agrado de todos.

A integração da América do Sul não deve simplesmente ser considerada como uma questão de racionalidade econômica, de política exterior, ou de Defesa; deve envolver a cultura, o estágio de desenvolvimento dos países, a religião, a etnia e conflitos emocionais (Nacionalismo, imperialismo, e etc.), e, dentro deste quadro, deve ser considera uma estratégia politicamente desafiadora e de difícil implantação.

Os países sul-americanos enfrentam, ainda, conflitos internos relacionados à posse da terra, pobreza urbana e rural, agronegócio, tribos indígenas, etnicidade e meio ambiente, tudo isso agravado pela atuação de minorias, pelo racismo e narcoterrorismo, dificultando, mais ainda, a integração e a defesa de interesses comuns. As relações entre países tendem a depender cada vez mais de suas sociedades e menos de seus governos.

Na América do Sul a diferença do estágio de desenvolvimento entre os países (Agrícola, industrial com base na energia, industrial com conhecimento tecnológico, e industrial se iniciando na era da informação), as questões fronteiriças, a instabilidade política, o curto tempo para negociação e consultas, e a eficácia ou não das organizações e instituições regionais, fazem se multiplicar os erros de cálculos estratégicos e tornam muito duvidosas as suposições sobre as quais se baseia a teoria de “zona de paz”.

As necessidades divergentes para o desenvolvimento dos países sul-americanos se refletem em concepções radicalmente diferentes do seu interesse nacional, que com o tempo poderiam originar agudas tensões no relacionamento regional.

É palpável que os fatos no mundo atual se produzem cada vez com mais rapidez, acelerando as mudanças nas atividades políticas e nas atuações necessárias a Defesa, e tornando a velocidade de decisão e ação fatores primordiais. É visível, ainda, que os países sul- americanos têm velocidade diferente conforme seu estágio de desenvolvimento. As diferenças na consciência do tempo nestes países afetam as decisões e as reflexões estratégicas, principalmente as relativas à Defesa.

Seja por meio de ideologia, religião, propaganda, seja por outros meios, consciente ou inconsciente, as elites administram a vontade nacional, ponto de partida para a implementação de uma estratégia vitoriosa de desenvolvimento e de defesa. A integração da América do Sul, vontade dos governos dos Estados da região, tem que ter o consenso das sociedades envolvidas. Nenhuma estratégia de Desenvolvimento e de Defesa pode se autossustentar sem uma sociedade e uma cultura nacional (Vontade nacional) que a hospede e abrigue.

Ao se pensar em equilíbrio de poder na América do Sul (outro fator necessário à integração), caso seja algo possível de se obter, é importante considerar a diferença gritante do poder dos Estados e, também, prestar atenção em outros atores do jogo do poder como: à força das ONGs; das corporações; dos sindicatos; dos grupos sociais; e das religiões. A capacidade de uma região ou um país se desenvolver, se defender, e criar riquezas são acima de tudo um acúmulo de possibilidades. A dúvida é como aplicar a ideia na América do Sul com países de interesses próprios e possibilidades tão discrepantes.

A condição do Brasil de país mais “rico” da América do Sul tem levado outros atores do seu entorno estratégico à tentativa de sempre tirar vantagens no relacionamento bilateral, ou no âmbito de organismos multilaterais, dificultando para o governo o relacionamento e as ações conjuntas necessárias à integração. Talvez esse seja o preço que o Brasil tenha que pagar pela liderança regional.

Quer as elites sul-americanas gostem ou não, o Brasil precisa de recursos, mercados, energia, oportunidades, ideias, informações de todo o globo, e não apenas de seus vizinhos da América do Sul, pois, sua agenda política e estratégica é global.

Com integração ou não na América do Sul, o fato é que o alcance espacial estratégico do Brasil extrapola a região, e vem passando por uma grande transformação, e o Brasil, neste mundo multipolar, tem importância estratégica como ator global.

Sendo o Brasil o único país da América do Sul que tem capacidade para agir como ator global, deve ter uma política externa mais pragmática e menos ideológica e assumir seu novo papel como sexta economia mundial.

Há questões a serem respondidas: O Brasil, nesse mundo multipolar, deve atuar como ator global ou regional? É melhor para o Brasil, neste mundo globalizado, negociar como país ou representando a América do Sul? Qual o valor da integração sul americana e a necessidade ou falta de necessidade dela para que o Brasil conduza sua política externa visando à defesa dos seus interesses seja na área do desenvolvimento ou da defesa?

Qual o “rastro” econômico, tecnológico e estratégico que o Brasil deixa quando, por exemplo, uns de seus produtos, os aviões da Embraer, são vistos voando nos Estados Unidos, na Europa, e na Ásia? A América do Sul vive um período de paz, desenvolvimento e diversidades. Isso não quer dizer que os problemas não existam. Basta uma pequena análise da conjuntura para se avaliar a América do Sul uma região dividida, com o desenvolvimento brasileiro, o chavismo venezuelano, a mística indígena boliviana, o esquerdismo de Rafael Correa, o populismo argentino, o esquerdismo uruguaio, e a suspenção do Paraguai do Mercosul.

O Brasil tem sido de uma paciência chinesa na relação bilateral com os países Sul- americanos na tentativa de salvar o projeto de integração da região, mas a América do Sul continua cheia de diferenças, dificultando sua integração e a busca da convergência nas áreas políticas, econômicas e de defesa.

A integração regional pode ser necessária no entendimento de alguns, mas não basta e às vezes atrapalha a defesa dos interesses do Brasil como ator global. O projeto de “Brasil país do futuro” não deve ser o de líder regional, mas o de potencia global, como são Rússia, Índia e China (BRICS).

CARLOS ALBERTO PINTO SILVA é General de Exército da reserva, ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, e Membro da Academia de Defesa

Fonte: DefesaNet