A MAÇONARIA E A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

 

Prof. Dr. Manoel da Penha Alves[i]

Brasília – DF, 01/12/2022

 

¨Seja o nosso país triunfante / Livre terra de livres irmãos! ¨

 

INTRODUÇÃO

Como parte integrante das comemorações programadas pelo Instituto Sagres – Política e Gestão Estratégica Aplicadas para o ano do Bicentenário da Independência do Brasil, o presente trabalho objetiva resgatar, através de fragmentos históricos significativos a influência marcante da Maçonaria, no movimento republicano brasileiro, amalgamando a civilização e o progresso, representados na defesa intransigente da liberdade de consciência, na abolição do trabalho escravo e no sistema de governo republicano.

A Maçonaria, na medida em que aglutinava setores significativos da sociedade e pela capilaridade marcada por uma estrutura organizacional peculiar, presente em todos os recantos do território nacional, viu suas Lojas Maçônicas, como células vivas da nacionalidade, transformadas em importantes centros de discussão, estudo e divulgação, do projeto republicano que viria a substituir o sistema monárquico então vigente no Brasil.

O Marechal Deodoro da Fonseca foi o protagonista da Proclamação da República, através do ato político-militar ocorrido em 15 de novembro de 1889, evento histórico que destituiu a Monarquia Imperial reinante no País, inaugurou a forma de governo republicana federativa presidencialista que vige até hoje e estruturou nossa nova identidade nacional. Deodoro era membro ativo da Maçonaria e foi o 13º Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil.

Cabe destacar o papel desenvolvido pelo Grande Oriente do Brasil, na formação política de nosso País e que durante mais de um século, foi fonte de recrutamento, tanto no período imperial quanto no republicano, de notáveis estadistas, com destaque para as campanhas pela Independência, Abolição da Escravatura, Proclamação da República, além de marcantes atuações nos campos sociais, educacionais e cívicas da nação. Cumpre realçar que a República se constitui na forma de governo em que o povo é soberano, e o Estado se estrutura de modo a atender o interesse geral dos cidadãos.

Mal Deodoro da Fonseca, primeiro Presidente da República, e a Bandeira Nacional do período republicano (atual)

 

CAUSAS DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

“Liberdade! Liberdade! / Abre as asas sobre nós!¨

(José Joaquim C. C. Medeiros e Albuquerque – Hino da Proclamação da República)

Inúmeros foram os fatores que influenciaram a sociedade na tomada de decisão que veio a desaguar no momento histórico caracterizado como Proclamação da República e todos eles contaram com a participação ativa da Maçonaria, capitaneados pela instituição maçônica Grande Oriente do Brasil. Destaque-se, pois, o papel do Grande Oriente do Brasil, na formação política de nosso País, e rendamos homenagens aos que ostensiva ou reservadamente honraram compromissos com a Ordem e com a Pátria e se imolaram em defesa dos interesses sociais do povo brasileiro. Dentre esses fatores, destacamos:

  1. Crise da Monarquia

O regime monárquico apresentou fortes indícios de que entrara em decadência logo após o fim da Guerra do Paraguai, em 1870, resultado da incapacidade da monarquia de atender aos interesses e as demandas da sociedade brasileira. Vivíamos o Segundo Reinado e o movimento republicano, de orientação maçônica, se apresentou como a solução para essa crise.

Podemos afirmar que o enfraquecimento da monarquia brasileira e, em consequência a instauração da República em 1889, deveu-se basicamente a questões de ordem econômica, religiosa, abolicionista e militar e, em todas elas a atuação da Maçonaria se fez presente nas decisões que vieram a ser tomadas.

Países importantes já haviam adotado o sistema republicano como forma de governo, e a participação política das pessoas era motivo de fortalecimento da ideia da importância de o povo poder passar a influenciar mais nas decisões políticas e administrativas do país.

O segmento representado pelos fazendeiros, força econômica e produtiva, ao retirar o apoio político que davam à monarquia, principalmente após a abolição da escravatura, agravou em muito a crise.

Como o poder monárquico passou a interferir sobremaneira na Igreja Católica, esta, incomodada, esta passou a retirar o apoio que concedia ao Imperador Dom Pedro II.

É claro que a Maçonaria atuava, até ostensivamente, para enfraquecer o regime monárquico e, através de lideranças reconhecidas na sociedade brasileira, planejava e arregimentava forças para o movimento republicano, em sua marcha na direção da implantação do novo regime de governo no Brasil.

 

  1. Crise Econômica

O governo do 2º Reinado vinha enfrentando uma crise econômica significativa a qual se agravou com a Guerra do Paraguai, na medida em que, ao tomar empréstimo aos ingleses, viu aumentado o endividamento externo.

A abolição do trabalho escravo e a falta de um plano que cobrisse essa lacuna, no aspecto econômico, contribuiu enormemente para a  Proclamação da República.

O descontentamento com o II Reinado atingiu camadas importantes da sociedade brasileira e contribuiu em  muito para  a eclosão do processo que redundou no movimento cívico – militar histórico que proclamou a República no País e extinguiu a forma de governo monárquico vigente até então.

 

  1. Influência do Iluminismo

Foi um conjunto de ideias que visavam transformar a política e a economia da Europa no século XVIII, organizado por intelectuais da burguesia europeia com críticas ao absolutismo reinante, ao sistema mercantilista da época e à Igreja. Era caracterizado pela crença na razão como ferramenta válida para o progresso da humanidade. O movimento iluminista contava com pessoas tão diferentes quanto Rousseau, Adam Smith e Locke, apresentando como característica básica a rejeição às crenças não fundamentadas e à postura dogmática da Igreja,  e defendendo a necessidade de separação dos poderes políticos e a defesa dos direitos individuais dos cidadãos.

O Iluminismo, como movimento cultural e intelectual, dominou o pensamento crítico que imperava  no meio maçônico e se constituiu  em causa da eclosão dos movimentos que tinham como objetivo conquistas de liberdade.

 

  1. Influência do Positivismo

O Positivismo, como corrente filosófica de origem francesa, encontrou terreno fértil na classe militar da época, entre os profissionais liberais e no meio intelectual, sendo estas ideias positivistas francamente contrárias ao regime monárquico e favoráveis ao regime republicano. Essa corrente filosófica encontrou guarida na Ordem Maçônica, e as Lojas, com capilaridade nacional, vão incorporar discursos de vanguarda que sustentam a modernidade educativa. Os maçons passam a se identificar com os princípios positivistas e a assumir o ideário de que a solução para os problemas nacionais estava vinculada  ao acesso à escolarização.

Augusto Comte, em seu projeto sócio-político pregava uma evolução ordeira da sociedade, incompatível com movimentos revolucionários, mas, no Brasil, tais ideias possibilitaram a queda da Monarquia e o advento do modelo de governo republicano. Augusto Comte dizia ¨Amor  por princípio, Ordem por base e Progresso por fim¨, e a frase ¨Ordem e Progresso¨ constante de nossa Bandeira Nacional, foi inspirada em um lema positivista.

O Positivismo encontrou forte adesão nos meios maçônico e militar, e as Lojas Maçônicas apoiaram a campanha republicana no País.

 

  1. Crise Político – Militar

O setor onde se verificou a maior presença da filosofia positivista foram as Forças Armadas, de onde saiu o vitorioso movimento republicano  e a adoção do lema ¨Ordem e Progresso¨.

O coronel Benjamin Constant, como líder inconteste na Educação e maçom ativo na Ordem, na cátedra na  Escola Militar, influenciou a formação ideológico-positivista de expressiva parcela da juventude militar e como militar, político e maçom foi o responsável por persuadir Deodoro da Fonseca para que este liderasse e Proclamasse a República.

Críticas e oposição feitas por integrantes do Exército Brasileiro, que se mostravam descontentes com a corrupção existente na Monarquia e com a proibição de militares atuarem na Política, mostravam sinais de decadência e exaustão do II Reinado. Dom Pedro II não era mais festejado como antes. Estava aberta a porta para as despedidas do sistema monárquico.

Proclamação da República

A História retrata a enorme influência e participação da Maçonaria como agente ativo no movimento republicano e no processo que culminou com a Proclamação da República, ao listar entre os 10 primeiros Presidentes da República Federativa do Brasil, 8 que foram maçons; a saber:

  • Deodoro da Fonseca;
  • Prudente de Morais;
  • Campos Sales;
  • Rodrigo Alves;
  • Nilo Peçanha;
  • Hermes da Fonseca;
  • Wenceslau Brás; e
  • Delfim Moreira.

Importante também é ressaltar que o primeiro Ministério do Governo Provisório era todo composto de maçons, a saber:

Rui Barbosa (Fazenda), Quintino Bocaiúva (Transportes), Demétrio Ribeiro (Agricultura), Aristides Lobo (Interior), Benjamin Constant (Guerra), Campos Sales (Justiça) e Eduardo Wandenkolk (Marinha).

Destaque-se que a implantação de um Estado laico, separado da Igreja Católica, efetivada pela Constituição de 1891, respondia a uma antiga reivindicação da Maçonaria.

 

CONCLUSÃO

Segundo Amaral (2005), no Brasil, todo o processo de Proclamação da República também resultou do trabalho de políticos ligados à Maçonaria e tal fato é evidenciado na constatação de que o Manifesto Republicano de 1870, foi redigido pelo Grão-Mestre Saldanha Marinho, com assinatura de grande número de maçons; o ¨Clube Republicano ¨ era presidido pelo Maçom Quintino Bocaiúva, e eram maçons os componentes do primeiro Governo Provisório do emergente sistema republicano.

A Maçonaria, com base nos ideais liberais e iluministas, desenvolveu marcante atuação no processo de modernização da educação no Brasil e ainda, influenciada pelos valores positivistas, consolida sua atuação quando atua em defesa do ensino elementar público, laico e obrigatório, reforçado pelo fato de as Lojas Maçônicas serem potenciais espaços de sociabilidade e organização ideológica.

Muito por conta dos seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que regem as ações da Maçonaria, esta teve atuação protagonista no processo histórico da Proclamação da República.

Assim, encerro este despretensioso fragmento histórico com significativa evocação:

Ser Maçom é querer:

    • A harmonia das famílias;
    • A concórdia dos povos, e
    • A paz do gênero humano.

 

¨Seja a mudança que você quer ver no mundo!”

Mahatma Ghandi

 

 

 

  

 

[i] Manoel da Penha Alves – Cel Inf Pqdt Veterano, Maçom ativo, grau 33 do GOB e membro ativo do Instituto Sagres

 

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