Copa de 2014: oportunidades e legado para a educação

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Após mais de três décadas da realização da última Copa do Mundo no continente sul-americano, já que a última foi na Argentina em 1978, contamos com oportunidades efetivas e definitivas de melhorias no que se refere aos aspectos educacionais.

Torna-se, portanto, imprescindível a projeção de cenários para a identificação das melhores práticas econômico-financeiras que surgirão, revelando caminhos a serem trilhados e oportunidades para diversas áreas e profissões, e refletindo na necessidade de melhor formação, pois somente com uma educação de qualidade seremos capazes de superar fragilidades e, consequentemente, fortalecer o país, com a finalidade de acolher evento de tamanha importância.

Recentemente, uma pessoa me relatou um fato considerado no mínimo inusitado, pois ilustra perfeitamente a necessidade das nossas empresas se prepararem melhor para receberem um evento do porte de uma Copa do Mundo.  Pois bem, por não estar se sentindo bem, ela foi para um atendimento em um hospital do Plano Piloto, em um domingo.  Durante o seu atendimento ouviu-se um movimento no corredor, com funcionários procurando nos consultórios médicos da emergência alguém que tivesse fluência no inglês para ajudar no atendimento de uma paciente.  Tratava-se de uma jornalista correspondente estrangeira.  Observou-se que apenas uma outra paciente conhecia o idioma, que se prestou a passar mais de uma hora ajudando os funcionários do hospital como intérprete durante todo o atendimento, só vindo a continuar a sua própria consulta médica após o recebimento de alta da paciente estrangeira.

Experiências passadas como as de Barcelona (que após as Olimpíadas triplicou o número de turistas por ano de 3 milhões para 9 milhões), a Copa da Alemanha e mais recentemente a Copa da África, devem ser avaliadas como subsídio para algumas decisões, tais como a identificação de um padrão mundial de atendimento.

Algumas áreas educacionais serão mais beneficiadas devido à natureza do evento, pois o mercado necessitará da melhoria da oferta de mão de obra qualificada, sobretudo em idiomas, na hospitalidade, na segurança das organizações, na construção civil, gastronomia, em gestão pública, hotelaria, sistemas de informação, relações internacionais, transporte e saúde, além do aparecimento de novas tecnologias e profissões voltadas para segmentos como comunicação e tecnologia da informação.

A educação a distância se consolidará definitivamente como uma grande aliada na formação, em um curto espaço de tempo, de milhares de pessoas nas diversas regiões do país.

É preciso considerar o enorme aporte cultural e a contribuição inestimável em todos os terrenos que a Copa do Mundo de 2014 proporcionará.  E a educação, como agente de integração e transformação social, será a grande aliada na garantia de melhorias definitivas na preparação de profissionais competentes, éticos e capazes de exercer a cidadania participativa, responsável e solidária.  Esse será o grande legado.

Fabiano de Souza Ferraz é Diretor de Gestão Acadêmica e Universitária da SAGRES e Mestre em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A evolução do capital humano no mundo globalizado

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A competitividade e a abertura internacional dos negócios têm levado as empresas a repensarem sobre seus métodos de administração, as operações internas, além de reavaliarem o perfil dos profissionais e o ambiente em que estão inseridas. Este ambiente como fonte de oportunidades mas, também, de ameaças, expõe as empresas a questões econômicas como taxas de inflação, de crescimento econômico, de desemprego, distribuição de renda, barreiras comerciais, além da observância dos ciclos econômicos (ou flutuações). Aspectos como a cultura, a tecnologia utilizada, a capacitação de mão-de-obra e as políticas governamentais também passam a ter uma maior dimensão em sua aplicabilidade para as empresas.

No atual cenário econômico e tecnológico, as transformações no mercado são constantes, obrigando os profissionais a se prepararem melhor para os grandes desafios. O advento da globalização criou um mundo em profunda integração, tornando letal o isolacionismo para as empresas e seus colaboradores que ainda se propõem a atuar de forma individualizada.

Para compreendermos a evolução do capital humano frente aos novos desafios internacionais é necessário conhecermos o passado a partir do mercantilismo, entre o século XV e o final do século XVIII. Período marcado pelos importantes descobrimentos marítimos e pela abertura de novas rotas comerciais. Com os descobrimentos, surge a concepção do sistema do monopólio colonial e, radicalmente, protecionistas.

Para os mercantilistas, o controle comercial pelo Estado centralizador era essencial, sobrando pouco espaço para a iniciativa privada. Como ideias centrais, o mercantilismo defendia a perseguição de uma posição superavitária da balança comercial; a proibição expressa de muitas importações e fortes controles sobre outras importações; o monopólio da exploração das colônias e da indústria colonial em favor da coroa; o entesouramento metalista como forma de obtenção da riqueza nacional, entre outros princípios menores. Portanto, nessa época, a liberdade comercial era muito restrita.

O capital humano continua sua caminhada em direção aos novos rumos mercadológicos e os países passam a organizar-se em blocos, como a União Européia e o Nafta

Com a chegada do Liberalismo, surge uma eclosão de pensamentos completamente divergentes às pregadas pelos mercantilistas. Surgem ainda os filósofos-economistas da escola clássica ou liberal, como Adam Smith, David Ricardo, Nassau Senior e John Stuart Mill. Esses pensadores pregam que o livre comércio é benéfico a qualquer nação. O propósito central é a de que a especialização internacional do trabalho e do capital humano leva os países a produzirem, com maior eficiência, aquilo que eles sabem fazer com maior facilidade ou cujos recursos existentes nos seus respectivos países assim os possibilitam a fazer. Como consequência da adoção dessas ideias, uma liberdade comercial sem precedentes, em âmbito internacional, dominou o cenário de então.

O capital humano continua sua caminhada em direção aos novos rumos mercadológicos e os países passam a organizar-se em blocos, como a União Européia e o Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio). Esse fato, aliado ao vertiginoso progresso da informática, da tecnologia das comunicações e da eletrônica potencializa a aproximação dos países, das empresas e das pessoas.

Neste cenário, a internacionalização, entendida como a globalização das economias e dos mercados, constitui um dos elementos chave do modelo que atualmente rege as relações econômicas, pois já não é mais viável que as empresas e os profissionais vislumbrem apenas as oportunidades do mercado nacional e para tanto, é preciso que sejam inovadores, busquem a excelência, conheçam a cultura, as tradições e os valores de outros países, aceitem e superem os desafios, adquiram novos conhecimentos e construam sua própria história.

Fabiano de Souza Ferraz é Diretor de Gestão Acadêmica e Universitária do Instituto SAGRES e Mestre em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

A atitude prospectiva

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“Conquiste quem você ama, consiga aquela promoção que tanto deseja, saiba mais sobre seu futuro e o modele do jeito que achar melhor” Cigana Íris do Oriente – Rio de Janeiro, RJ.

O título não é inédito. Na verdade, trata-se (somente o título) de um plágio declarado do artigo de Gaston Berger, publicado na francesa Revue Prospective n° 1, em 1958. Foi a primeira vez que o termo “prospectiva” foi cunhado, como “conjunto de pesquisas a respeito de fenômenos técnicos, tecnológicos, científicos, econômicos, sociais etc, que procura prever a evolução futura das sociedades”.

O significado é evidente, uma vez que se opõe a retrospectiva. Enquanto esta olha para o passado, prospectiva visa a projetar o futuro, em uma concepção linear do tempo. Contudo, essa aparente simetria é falsa, para todo aquele que se dedica a estudá-la.

Embora possa ser interpretado e reinterpretado ao sabor das idiossincrasias dos historiadores, o passado já aconteceu, e nada mais pode mudá-lo. Já o futuro não existe, e está por ser construído, mercê da capacidade e da vontade dos atores sociais. Todavia, é interessante notar como freqüentemente pessoas e organizações relegam ao segundo plano uma atitude pró-ativa em relação ao porvir, permanecendo envolvidas por sucessivos “tsunamis de cotidiano”, que não concedem tempo necessário para tão importante atividade.

As urgências e emergências do dia-a-dia, bem como a necessidade de apresentar resultados imediatos, levam a maioria dos dirigentes a pensar no presente e, no máximo, no curto prazo. Daí a necessidade de gestão estratégica, de longo prazo, que deve ser desenvolvida com a participação de profissionais qualificados, reportando-se diretamente aos mais altos escalões das organizações.

Gestão estratégica é um processo sistemático, planejado, administrado e executado pela alta direção da organização, buscando assegurar a continuidade, sobrevivência e crescimento futuros da empresa, através da contínua adequação de estratégias, capacitação, estrutura e infra-estrutura.

Incluindo técnicas e metodologias de planejamento, a gestão estratégica prospectiva permite projetar os possíveis cenários que poderão se formar, em longo prazo. Não se trata de prever o futuro, e sim de analisar as probabilidades, de modo a construir hoje os eventos que queremos ver realizados, amanhã. A estratégia também permite enxergar as possibilidades em todas as suas
dimensões, aproveitando as janelas de oportunidades e adotando medidas preventivas em relação às ameaças que, nos horizontes temporais visualizados, poderão impedir que os objetivos sejam conquistados.

… a gestão estratégica prospectiva permite projetar os possíveis cenários que poderão se formar, em longo prazo …

Isso explica casos de empresas como a Shell – que se preparou com vários anos de antecedência para a crise do petróleo que ocorreria na década de 70. Ou manobras como a da brasileira Stemac, fabricante de geradores elétricos do Rio Grande do Sul, que triplicou a receita por ter se articulado, em tempo hábil, para o “apagão” de 2001.

Nada disso, porém, pode ser possível se não houver riscos. O risco é inerente às grandes vitórias, e o estrategista sabe que, sem eles, não será possível otimizar as fortalezas e minimizar as debilidades das organizações. Utilizando um conceito de Einstein, em sua teoria do espaço curvo, é possível afirmar que as mais retumbantes derrotas e as mais espetaculares conquistas estiveram, em
determinados momentos da história, muito perto umas das outras.

Se você não acredita, consulte a cigana. Se não adivinhar o seu, pelo menos o futuro dela estará garantido, mediante pagamento à vista ou confirmação do depósito bancário.

Raul Sturari é Diretor de Prospectiva do Instituto Sagres

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