O Brasil e a integração Sul-americana

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Quais são exatamente as possibilidades de conflito na área de Defesa na América do Sul, se as nações estão perdendo seu “monopólio do emprego da violência” com as chamadas novas ameaças? Que tipo de integração ou arranjo regional pode fazer frente a nações de fora da região ou a um grupo hostil não Estado?

Os geoeconomistas, e outras pessoas desatentas à realidade do relacionamento entre Estados, argumentam que os países se desenvolvem e os conflitos na área de Defesa diminuem, numa região, quando as nações se integram e se tornam dependentes uma das outras, principalmente no comércio e na economia.

É certo que a interdependência cria laços entre as nações, mas o que se observa é o fato que com o correr do tempo, o relacionamento torna-se mais difícil e complexo.

A interdependência (Integração) das nações de uma região faz crescer riscos de consequências imprevisíveis. A ignorância frente a uma enorme complexidade de interesses diferentes debilita os vínculos entre objetivos e ações previstas em estratégias comuns, e incrementa as soluções conjunturais, nem sempre as mais acertadas e de agrado de todos.

A integração da América do Sul não deve simplesmente ser considerada como uma questão de racionalidade econômica, de política exterior, ou de Defesa; deve envolver a cultura, o estágio de desenvolvimento dos países, a religião, a etnia e conflitos emocionais (Nacionalismo, imperialismo, e etc.), e, dentro deste quadro, deve ser considera uma estratégia politicamente desafiadora e de difícil implantação.

Os países sul-americanos enfrentam, ainda, conflitos internos relacionados à posse da terra, pobreza urbana e rural, agronegócio, tribos indígenas, etnicidade e meio ambiente, tudo isso agravado pela atuação de minorias, pelo racismo e narcoterrorismo, dificultando, mais ainda, a integração e a defesa de interesses comuns. As relações entre países tendem a depender cada vez mais de suas sociedades e menos de seus governos.

Na América do Sul a diferença do estágio de desenvolvimento entre os países (Agrícola, industrial com base na energia, industrial com conhecimento tecnológico, e industrial se iniciando na era da informação), as questões fronteiriças, a instabilidade política, o curto tempo para negociação e consultas, e a eficácia ou não das organizações e instituições regionais, fazem se multiplicar os erros de cálculos estratégicos e tornam muito duvidosas as suposições sobre as quais se baseia a teoria de “zona de paz”.

As necessidades divergentes para o desenvolvimento dos países sul-americanos se refletem em concepções radicalmente diferentes do seu interesse nacional, que com o tempo poderiam originar agudas tensões no relacionamento regional.

É palpável que os fatos no mundo atual se produzem cada vez com mais rapidez, acelerando as mudanças nas atividades políticas e nas atuações necessárias a Defesa, e tornando a velocidade de decisão e ação fatores primordiais. É visível, ainda, que os países sul- americanos têm velocidade diferente conforme seu estágio de desenvolvimento. As diferenças na consciência do tempo nestes países afetam as decisões e as reflexões estratégicas, principalmente as relativas à Defesa.

Seja por meio de ideologia, religião, propaganda, seja por outros meios, consciente ou inconsciente, as elites administram a vontade nacional, ponto de partida para a implementação de uma estratégia vitoriosa de desenvolvimento e de defesa. A integração da América do Sul, vontade dos governos dos Estados da região, tem que ter o consenso das sociedades envolvidas. Nenhuma estratégia de Desenvolvimento e de Defesa pode se autossustentar sem uma sociedade e uma cultura nacional (Vontade nacional) que a hospede e abrigue.

Ao se pensar em equilíbrio de poder na América do Sul (outro fator necessário à integração), caso seja algo possível de se obter, é importante considerar a diferença gritante do poder dos Estados e, também, prestar atenção em outros atores do jogo do poder como: à força das ONGs; das corporações; dos sindicatos; dos grupos sociais; e das religiões. A capacidade de uma região ou um país se desenvolver, se defender, e criar riquezas são acima de tudo um acúmulo de possibilidades. A dúvida é como aplicar a ideia na América do Sul com países de interesses próprios e possibilidades tão discrepantes.

A condição do Brasil de país mais “rico” da América do Sul tem levado outros atores do seu entorno estratégico à tentativa de sempre tirar vantagens no relacionamento bilateral, ou no âmbito de organismos multilaterais, dificultando para o governo o relacionamento e as ações conjuntas necessárias à integração. Talvez esse seja o preço que o Brasil tenha que pagar pela liderança regional.

Quer as elites sul-americanas gostem ou não, o Brasil precisa de recursos, mercados, energia, oportunidades, ideias, informações de todo o globo, e não apenas de seus vizinhos da América do Sul, pois, sua agenda política e estratégica é global.

Com integração ou não na América do Sul, o fato é que o alcance espacial estratégico do Brasil extrapola a região, e vem passando por uma grande transformação, e o Brasil, neste mundo multipolar, tem importância estratégica como ator global.

Sendo o Brasil o único país da América do Sul que tem capacidade para agir como ator global, deve ter uma política externa mais pragmática e menos ideológica e assumir seu novo papel como sexta economia mundial.

Há questões a serem respondidas: O Brasil, nesse mundo multipolar, deve atuar como ator global ou regional? É melhor para o Brasil, neste mundo globalizado, negociar como país ou representando a América do Sul? Qual o valor da integração sul americana e a necessidade ou falta de necessidade dela para que o Brasil conduza sua política externa visando à defesa dos seus interesses seja na área do desenvolvimento ou da defesa?

Qual o “rastro” econômico, tecnológico e estratégico que o Brasil deixa quando, por exemplo, uns de seus produtos, os aviões da Embraer, são vistos voando nos Estados Unidos, na Europa, e na Ásia? A América do Sul vive um período de paz, desenvolvimento e diversidades. Isso não quer dizer que os problemas não existam. Basta uma pequena análise da conjuntura para se avaliar a América do Sul uma região dividida, com o desenvolvimento brasileiro, o chavismo venezuelano, a mística indígena boliviana, o esquerdismo de Rafael Correa, o populismo argentino, o esquerdismo uruguaio, e a suspenção do Paraguai do Mercosul.

O Brasil tem sido de uma paciência chinesa na relação bilateral com os países Sul- americanos na tentativa de salvar o projeto de integração da região, mas a América do Sul continua cheia de diferenças, dificultando sua integração e a busca da convergência nas áreas políticas, econômicas e de defesa.

A integração regional pode ser necessária no entendimento de alguns, mas não basta e às vezes atrapalha a defesa dos interesses do Brasil como ator global. O projeto de “Brasil país do futuro” não deve ser o de líder regional, mas o de potencia global, como são Rússia, Índia e China (BRICS).

CARLOS ALBERTO PINTO SILVA é General de Exército da reserva, ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, e Membro da Academia de Defesa

Fonte: DefesaNet

O Brasil no Mundo de 2025: Incertezas e Desafios das Relações Internacionais

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O mundo está em crise! Crise grave porque engloba confiança e credibilidade!

Os organismos internacionais de maior peso internacional como a Organização Mundial do Comércio (OMC), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU) e sua Rodada de Doha, que tratam das questões comerciais, estão desmoralizadas pela incapacidade de gerir os antagonismos econômicos e as adversidades financeiras globais.

A crise severa da Zona do Euro está longe de ser solucionada, refletindo diretamente para a própria comunidade européia, ainda sustentada, com dificuldade crescente, pela Alemanha, e com “viés de baixa” pelo Reino Unido…

O déficit fiscal dos EUA não sai de um vermelho assustador desde as empreitadas bélicas lunáticas empreendidas pelo governo falcão do Bush filho, também conduzindo a um nível de desemprego domestico assustador para os padrões norte-americanos.

O Japão, líder isolado do Oriente, ainda não descobriu um equilíbrio político interno para promover seu caminho de crescimento estável. A Rússia tenta retomar um papel de liderança global com grande esforço, entretanto colhe frutos amargos pelo plantio equivocado de um governo socialista com base no mercado capitalista, tendo sido deixado esta tarefa para um “seleto grupo” de empresários, próximos do Kremlin, mais conhecidos como a “Maphya Russa”, rica, forte e poderosa.

A Índia cresce que nem catapora, mas no seu inverso, estabelecendo ilhas de prosperidade no meio de um oceano de mazelas e desigualdades, porém “próspero” por ser de fácil condução (religião x castas sociais) por parte da elite do poder reinante.

A China, bem, avança firme e determinadamente para se tornar um Estado suficientemente forte comercial, tecnológico e militarmente falando como um verdadeiro ator global, além do Mar da China, influenciando (e preocupando) seus vizinhos e os EUA, seu verdadeiro oponente. Dependente radicalmente de fonte de energia e de matéria prima do exterior, ganha espaço cada vez mais nas negociações internacionais, apesar dos graves óbices relacionados com a superpopulação (alimento e emprego) e com as questões ambientais.

Nessa turbulência global cada um busca solucionar seus problemas não mais em bloco, mas sim por meio de acordos bilaterais. O maior exemplo é o provável pujante acordo entre os EUA e a UE, em fase final de negociação, e entre os mesmos Estados Unidos com a Ásia, sendo o Japão um provável membro desse também poderoso acordo de cooperação comercial.

Numa esfera menor países da América Latina buscam parcerias com os EUA, China e outros Estados com interesses convergentes.

E o Brasil, nosso País que pertence ao grupo dos “emergentes”, que integra os BRICS e é um dos fundadores do Mercosul, da UNASUL, etc., cujo PIB o credencia a ser reconhecido como um dos 10 países mais “ricos”, apesar do “pibinho” ridículo obtido em 2012, do IDH mediano para baixo, das profundas desigualdades sociais e culturais e da real desqualificação da grande parte de sua população, com uma representatividade política sofrível para não dizer desastrosa, como fica nessa estória?

Simplesmente não fica e deixará de ser tudo aquilo que se vislumbrava há pouco tempo atrás se permanecer à parte das grandes negociações internacionais e dos fortes acordos bilaterais. Isso sem falar na política econômica doméstica equivocada baseada tão somente no crédito sem o lastro proporcional para manter dinâmico o mercado interno e de fato oferecer garantias políticas ao setor produtivo para empreender e investir para melhor produzir melhores produtos e competir no exterior.

De costas para o Pacífico há séculos, talvez por entender ser intransponível a barreira geográfica dos Andes (sic), é mais do que oportuno o Brasil promover uma alteração na hierarquia das prioridades comerciais para aquela região e para o hemisfério norte.

Um trabalho de política externa intensa de difícil vislumbramento a curtíssimo prazo, mas possível a partir de 2016 após os dois grandes eventos previstos para serem realizados no País.

Deixar de desacreditar em política de longo prazos para priorizar políticas de Estado é uma desafio de mudança de paradigma antigo, mas de importância enorme para o País avançar sem descontinuidade nociva e desgastante, investindo paulatina e permanentemente na estruturação logística doméstica e na educação de base junto a população e na qualificação correspondente dos professores em todas as regiões brasileiras.

Será que essas mudanças de eixo político e comercial no campo externo brasileiro serão suficientes para alcançarmos um futuro desejado daqui a cerca de dez ou quinze anos? Certamente precisamos correr para não ficarmos tão atrás nessa complexa e intensa rede de negociações comerciais internacionais, pondo em prática, com urgência, novas ações políticas, com o aval do empresariado, ao invés de ficarmos “patinando” no mesmo lugar, sem resultados que justifiquem tal conduta absolutamente alheia dos grandes movimentos globais no campo do comércio exterior.

Roberto Carvalho de Medeiros é Doutor em Ciências Navais – Política e Estratégia Marítimas pela Escola de Guerra Naval (EGN – 2002)